A minha família Ferreira Pinto é de Viseu. São todos louros. O meu pai e tio tinham o cabelo quase branco em pequenos. Os meus primos são louros. Ele dizia - para desgosto dela - que a minha mãe tinha estragado a raça!
Só bebia vinho Grão Vasco, (do Dão Claro) e água do Vimeiro.
O Paulo, o primogénito, era o favorito. Eu, era o cantiflas.
Tinhamos de ter o cabelo cortado como ele. Os calções tinham de ser acima do joelho, como ele.....
Era piloto. Tinha histórias engraçadíssimas, como aquela em que foram a França buscar os Dragon Rapid, e caíram antes dos Pirinéus voltando de comboio para Lisboa.
Nunca passei um Natal com ele, nem nunca foi aos meus anos. Ia e vinha com uma velocidade que não deixava saudades.
Muito cedo ficou viúvo. A minha avó faleceu com vinte en poucos anos, complicações pós-parto. Ficou em Bissau.
O meu avô «despachou» os filhos para a irmã -a minha tia Zaida - , e teve, como se fugisse à própria vida, uma vida de aventura e desprendimento.
Era uma pessoa culta. Escrevia, desde os tempos na Base de Sintra, em diversos jornais. Tinha colunas regulares no «Jornal de Sintra», «Badaladas da minha Terra», «Moca de Rio Maior» e colaborações no Diabo.
Era amigo dos seus amigos, e conservava fortemente as amizades.
Recordo que recebia todos os natais um postal de Otto von Habsburg, o pretendente ao trono do império austro-hungaro, e que se cruzou com o meu avô na Guiné, estando na altura a escrever o seu trabalho «Afrika Ist Nicht Verloren: Schwarz und Weib--Partner, Nicht Feinde», na qual escreve uns capítulos sobre a àfrica portuguesa. E, refere um episódio, na Guiné, debaixo de uma forte trovoada, o meu avô aterrou o Dornier numa praia, mesmo à beira-mar, saíram do avião, abrigaram-se, e no dia seguinte lá foram outra vez .
Era chato.
Era chato.
Era um político. No tempo do Gen. Humberto Delgado, que acompanhou, a DGS impediu os filhos de frequentarem o Colégio Militar. Após o 25 de Abril, virou extrema direita tendo mesmo sido candidato a deputado pelo PDC (partido da democracia cristã).
E eu e o meu irmão lá viviamos no turbilhão de ideias entre a esquerda (do meu avô Diniz) e a direita (do meu avõ Pinto). Tinhamos de ler o: Avante, o Diário, a Moca e o Diabo! Era uma trabalheira!
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