17/10/2009

28 anos depois

Na passada sexta-feira, dia 16/10, foi o início das comemorações no Colégio Militar a que se deu o nome de Início do Ano Lectivo.
Tinha de lá ir. Tinha de ir ver o 272, o meu Henrique.
Estava cheio de medo de lá voltar. Já não entrava por aqueles portões à 28 anos.
Medo de tantas recordações. Aquela casa que me acolheu durante 7 anos da minha vida. Talvez os piores e os melhores anos. Nela passei de miúdo a homem. Perdi o meu pai. Tinha os meus amigos. Estava afastado da minha mãe.
Soube à última da hora que a minha mãe também ia (ver o seu neto claro), e encontrei-me lá com ela. Agarrei-lhe o braço e entrei pelos portões. Nessa altura, houve qualquer coisa de extraordinário em mim. Uma sensação de paz interior e uma angústia enorme. Subi rapidamente as escadas dos claustros em direcção às varandas superiores. Fui direito ao «geral» das salas de aulas e ali fiquei um pouco a olhar em redor. Nada tinha mudado!
Saí rapidamente e entrei na capela.
Ali, que em tantas alturas, tinha procurado o conforto, a sabedoria e o alento Daquele que me ajudava a ultrapassar a solidão e o medo.
Já na varanda, começam a entrar as companhias. A 1ª, a 2ª a 3ª e finalmente a 4.ª. Assiste-se a Ordem Unida. O bater das mãos nas armas. O som das armas a baterem no chão.
Era um ciclone de recordações. Entra o estandarte. Entra a bandeira Nacional. O comandante grita: «Batalhão em continência à bandeira apresentaaaarrr Aaaarmmmaaa».
O batalhão, em unísono, bate numa cadência de séculos, na coronha e cano da arma. Toca o hino nacional pela banda do exército. Canta-se, nos claustros, numa ambiência que lhe é única as estrofes que nos unem na mesma Nação.
Gritou-se vários Zacatras. Foi entregue como é habitual, a espada pertencente ao rei D. Carlos, que confiou ao comandante do batalhão como testemunho da lealdade à Pátria.
Tinha os olhos humedecidos. A minha mãe chorou.
No final, à saída pelos portões, agarrou-me o braço e disse «vocês tiveram uma infância muito difícil»....

(a minha mãe, a Margarida, o Paulo, o Miguel e em baixo o Diogo)

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