30/09/2009

Nu, óleo sobre tela


Na parede adjacente à entrada do escritório do primeiro andar, existem dois quadros, que são uns estudos de nús, em óleo sobre tela (sim, este texto é para vocês verem que o vosso tio não é nenhum tarado....)

Estes quadros têm duas histórias, bonitas e curiosas.

História Curiosa

Dr. Otto Deutschberger, 75, Dies; Ex-Radiologist in New York City
May 10, 1979, Thursday
Dr. Otto Deutschberger, former, director of radiology at the New York Eye and Ear Infirmary in New York City, died of cancer May 2 at Hollywood Hospital in Florida after a brief illness. He was 75 years old and had lived in Portugal since his retirement.
The New York Times

Esta notícia que saíu no New York Times, em 1979, dava conta do falecimento do Físico e Radiologista Otto Deutschberger.
O meu professor de física, o Dr. Lepierre Tinoco, deu na aula, com tom grave, a notícia do falecimento do Dr. Deutschberger, que fora um dos assistentes de Albert Einstein e que com ele produziu vários trabalhos relacionados com a física das partículas.
E eu após ouvir a notícia disse: «Eu conhecia-o. Ia várias vezes a sua casa». Espanto geral.




História Bonita


Os quadros já referidos, foram pintados por Rita Deutschberger. A esposa do Dr. Deutschberger. Eles viviam na altura no Banzão, à saída do Mucifal. A Rita dava aulas de pintura à Gi. A vivenda onde viviam, tinha piscina, e quando a Gi ia para as aulas de pintura, convidava-me para ir com ela para tomarmos banho. Claro que eu queria ir!


Mais tarde, a Gi, confessou-me, que queria que eu fosse com ela para estar ao pé de mim, mas eu, queria lá saber de «gajas», queria era tomar banho na piscina. Acho que sempre fui um pouco tapado em relação a estes assuntos (colégio de freiras + colégio interno + mecanotecnia - gajas = tímido)


E assim, enquanto a Gi mais a Rita se entretinham à volta dos óleos, pincéis e telas, eu lá passava a tarde a mergulhar na piscina do Dr. Deutschberger.

28/09/2009

My Little Poney ou porque é que uso relógio no braço direito


O meu sobrinho Henrique (perdão, 272), sempre que vai ao escritório e vê lá as minhas esporas, pega nelas e eu digo-lhe: quando começares as aulas de equitação dou-te essas esporas que também já foram do teu pai!
Ele adora cavalos. Desde pequeno tem um cavalo, castanho imaginário de que tinha de tomar conta, e nós, principalmente a Gi, derretíamo-nos com o facto. Cresceu, e aprendeu a montar. No Paddock já tinha chegado à fase dos saltos. Ele gosta.
Agora é diferente.
Num picadeiro, com vinte marmelos, dos quais 18 odeiam cavalos, Tudo é diferente. A correria para a escolha do cavalo, o montar com alguns cavalos já em movimento e, o mais terrível de tudo: passar no meio do picadeiro. Sim porque quando o cavalo vai a «olhar» para a parede, nós ainda o controlamos, mais ou menos, mas agora no meio..... é o pânico! É coice por todo o lado... É carga e galope desenfreado.... É quedas...
Nessa aula calhou-me o Alfange. Um lindo alazão, novo ainda a «desbastar». E quem lá em cima? Je.
O Alfange era um «teenager», a querer mostrar a sua força e teimosia, e eu, um teenager, morto de medo para que ele fosse «meiguinho». O Alfange não gostava de fazer os cantos ao picadeiro, e eu, lá lhe puxava a rédea direita e dáva-lhe com a bota esquerda para ele olhar para a parede como se dissesse: vá lá, faz os cantos, pleaaaaaaaasssssseeeeee...
Mas ele nada. Jovem, forte, e teimoso. O Major Ataíde, já farto da situação, coloca-se entre mim e a parede com os braços abertos para o obrigar a encostar à parede. Quando o Alfange o vê, faz uma finta, e foge pelo picadeiro a fora. E eu? Eu lá me agarrei com os dois braços à volta do pescoço dele e lá fui agarradinho até ele decidir travar em frente à parede, e atirou-me contra esta partindo o braço esquerdo.
O Major ainda me começou a bater com o pengalim para que eu voltasse a montar (método pedagógico para perder o medo), mas eu, tinha o braço partido e tive de dar baixa ao hospital.
O Alfange lá continuou. Soube que fez várias baixas na Academia.
Eu? continuei com medo dos cavalos e com o relógio no braço direito.
Por isso, Henrique, leva as esporas e evita os «Alfanges».

Broken Arrow

Quando na passada sexta-feira fui buscar a minha mãe, ela reparou logo que algo não estava bem em mim. Contei-lhe que andava um pouco deprimido, razões que a razão desconhece. E, mãe é mãe. Conhece-me de ginjeira. Se atirasse uma pedra na escuridão, era em mim que acertava.
E logo, mal a deixei em casa, lançou o código: BROKEN ARROW !!!!
(Eu não sou parvo, pela quantidade de chamadas, percebi que foste tu!! hum hum...)
E de imediato ligaram: O Paulo, o Miguel, o meu Cisco, o pimo Uique, o Diogo e até o Zezinho (maricas!) chorou só para mim. A Guida, que fez companhia e a Sandra.
Claro está a Gi e a minha mãe que não me deixaram um momento (bem feita mãe pelo molho-um que levaste na relva)!!!!

OBRIGADO, acho que estou melhor.

(Nota: Broken Arrow é um código militar usado pelo exército americano que significa um ataque aéreo com todos os meios disponíveis para auxiliar uma unidade que está em derrota eminente)

24/09/2009

Tesourinhos deprimentes - 1

O Remo, sempre foi impossível de ficar preso. Tentámos de tudo: canil, arnês, corrente, NADA.
Nada o prendia.
Mesmo dentro de casa, com a sua mestria, abre as portas (certo dia de Natal, deixámos os dois o Jaba e o Remo dentro de casa, e, quando regressámos da Santa Ceia, lá estavam os dois, CÁ FORA, na relva, a puxar cada um para seu lado a parka nova que a Gi me oferecera. 
Certa vez, e já não me lembro por que razão, deixámos o menino Remo preso com uma corrente. O resultado é visível na foto abaixo: rasgou a lona do meu-mais-que-tudo Pipoco.
Foi até onde dava! ráááá....




23/09/2009

Birra (mesmo, não é a cadela) da História

O AM73, ou Aeródromo de Manobras 73, era em Mutarara.
Um vila que tinha uma função especial, pois era a povoação que abastecia as obras da barragem de Cabora Bassa (ou como se diz agora Cahora Bassa), a maior barragem de betão de África.
O meu pai, tinha a chefia deste aeródromo, e, ainda hoje guardo a última bandeira nacional hasteada nesta vila, dada ao meu pai pelo chefe da polícia local, aquando da última e derradeira partida.
Ia frequentemente com ele lá.
Na cabine do Puma, no meio do meu pai e do co-piloto, a ver o trajecto até lá.
Íamos sempre em voo rasante às copa dos embondeiros, e recordo as impalas a saltarem à nossa frente (não levava cadeirinha nem cinto, como hoje deveria ser norme da CE).
De regresso ao AB7, em Tete, Levávamos geralmente feridos e militares cuja comissão tinha acabado. Ia para o pé do meu pai e corria a cortina da cabina do helicóptero para não ter que ver a agonia lá atrás.... pois é, foi assim.

(Na barragem ainda em construção. Na foto e da esquerda para a direita: o meu pai, o Damásio, a Anabela, eu com birra, a minha mãe, a Luísa, a Zé o João Carlos e o Rolando)

Seminário "Quintas e Jardins Históricos - Investigar, Recuperar, Gerir"

A Gi foi convidada para no passado dia 22-09 «botar» palestra na Quinta Municipal da Piedade, Póvoa de Santa Iria. O tema é sobre o excelente livro que escreveu sobre a Quinta da Riba Fria (ver programa abaixo, às 11:30!).
Lá esteve a preparar tudo à pressão, como lhe é característico, rematando: «mas eu sei aquilo de cor!»

Investigar para Recuperar


9.30 Recepção
10.00 Abertura
Maria da Luz Rosinha
Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
Luís Marques (Antropólogo)
Director Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo
10.15
Pensar o Sítio no Tempo
Raquel Henriques da Silva (Historiadora)
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa)


Pausa para café
11.00
Recuperar sete séculos de história na Quinta das Lágrimas (Coimbra)
Cristina Castel-Branco
(Arquitecta paisagista – Instituto Superior de Agronomia / ACB Arquitectura Paisagista)
11.30
Os espaços e os tempos na Quinta de Ribafria (Sintra)
Maria Teresa Caetano (Historiadora – Câmara Municipal de Sintra)
12.00
A Construção dos Jardins do Palácio de Queluz: uma perspectiva arqueológica
Maria José Sequeira e Ana Vale (Arqueológas)
12.30
Projectar Paisagem no Tempo
Teresa Andresen (Arquitecta Paisagista)
Directora do Parque de Serralves / Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

21/09/2009

Histórias à volta das imagens


Na fonte que lá tenho por casa, o meu irmão Paulo, achou por bem dar-me no meu aniversário, como prenda, quatro peixes de lago: o Nemo, o Kursk,  o Nautilus e um, que de tão efémera vida, nem chegou a ter nome. Isto porque o Remo apanhou-o, e foi encontrado, sem vida, no chão em "doca seca". De todos eles, o único sobrevivente foi o Kursk (ironia das ironias), que lá continua, esfregadíssimo pelo Henrique, o zelador da fonte do Cabeço de Barro.

(Na foto, o Remo a tentar apanhar mais uns.... e a fonte, que agora está pintadíssima - Ah grande Henrique!)




E o Báltico aqui tão perto....

Pois é. Depois de uma partida, que nem Del Potro ou Federer, punham a unha, nunca, mas digo NUNCA, escapamos à tentação. Devemos ter um pouco de tritão. Por alguma razão, quando saio de casa, venho sempre na ânsia de ver o mar. Tenho o prazer de poder adormecer ao ouvir o murmúrio do mar. Acordo abro a janela e vejo o mar. Ele tem me acompanhado. Mas este não é o Báltico (porra que está frio brrb brr) mas é o Atlântico na sua verdade. Ele como é. Forte, frio e limpo.

(eu, o Paulo e o Pirolito)




18/09/2009

MacDili

Quis o destino que assistisse pela segunda vez ao desmoronar do Império.
Desta feita, foi a última pedra. Timor. Após 500 anos de história, partíamos do mesmo modo que lá chegámos da primeiríssima vez: de barco, pequeno e frágil.
O MacDili era um velho cargueiro habituado a fazer a ligação Macau-Timor, foi nele que fiz a travessia de cerca de 500 km do Mar de Timor que separam esta ilha da Austrália. Foi uma viagem de 2 dias. A minha mãe gravidíssima do Miguel, foi colocada nas instalações da tripulação composta por chineses, filipinos e malaios. O meu irmão Paulo, fez todo o possível para a acompanhar e olhar por mim.
Eu, lá andava nos porões, por cima dos sacos de arroz onde dormia e brincava. Chegámos à Austrália.




O meu irmão Paulo, o meu Pai e eu pouco antes de embarcarmos no MacDili, que se vê ao fundo. O meu Pai ainda estava de fato-de-vôo, numa das últimas fotografias antes de ficar preso em Aileu com a sua tripulação

O que se passou antes de entrarmos no MacDili, o cap. Abilio Alves Ferreira no seu livro "O ùltimo vôo sobre Timor", o descreve com precisão. Eu era um dos 270...



«No dia seguinte, cerca das dez horas, fomos para o porto. O pequeno navio ainda se encontrava ao largo. A confusão era evidente. Ninguém se entendia. Por que não acostava o MacDili?
- Parece que está com uma avaria nas máquinas. – informou alguém.
Camiões do exército trouxeram rações de combate e colchões, pois o navio só tinha alojamentos e alimentação para a tripulação. Iria levar cerca de 270 passageiros incluindo o grupo de reciclagem. Na sua maioria eram mulheres e crianças.
O tempo foi passando e o navio mantinha-se imóvel. Cerca das três horas da manhã avisaram-me de que só no dia seguinte o MacDili acostaria. Muitas pessoas e, sobretudo as crianças mais pequenas já dormiam junto aos armazéns do cais, deitados sobre os colchões. Logo que a notícia se espalhou, algumas pessoas abandonaram o porto e foram para suas casas. Outros porém, possivelmente os que moravam longe, optaram por passar ali o resto da noite.
Logo pela manhã regressamos ao porto. O navio ainda não se tinha movido. Um oficial do exército fez a chamada (inútil) dos passageiros.
(...)
Quando todos os passageiros já tinham entrado no MacDili e este estava prestes a partir, ouviu-se, disparada ali no porto, uma rajada de metralhadora. As pessoas que estavam no cais correram em todas as direcções, tentando proteger-se. Os que, como eu, tinham família a bordo, ficaram junto ao barco gritando aos tripulantes para largarem. Receávamos que se tratasse de uma tentativa para impedir a evacuação, pois já se tinha ouvido falar nisso. Mais tarde informaram-me que a rajada tinha sido feita para dispersar a multidão de timorenses que se tinha aglomerado à volta do porto. Tinha sido efectuada por um elemento da UDT, não sem antes ter dado conhecimento aos pára-quedistas.
Finalmente o MacDili principiou a mover-se com uma lentidão exasperante. A maioria dos passageiros já tinha entrado nos porões, para onde fugiram quando ouviram a rajada. O vento soprava forte e a primeira tentativa do navio para sair do porto fracassou. O canal é estreito porque existem bancos de coral a cerca de duzentos metros do cais. Todos os que estávamos em terra começávamos a ficar impacientes. Um marinheiro, ao meu lado, comentou:
- Com este vento, o navio não consegue fazer a manobra.
Embora eu pensasse que a evacuação era prematura e poderia contribuir para uma deterioração mais rápida da situação, uma vez decidida, quanta mais depressa melhor.
Numa segunda tentativa, o MacDili conseguiu, finalmente, afastar-se com uma lentidão que faria orgulhosa qualquer lesma. Em terra ficamos nós, apenas os homens. Braços no ar, lágrimas nos olhos, os corações destroçados! Adeus, até quando?»





Notícia saída na revista TIME, Set. 08, 1975, título: "Portugal: Out But Not Down"
«(...) Since then Fretelin, seeking to unseat the U.D.T., has reportedly gained control of the capital of Dili. Refugees fleeing the island told chilling stories of heavy casualties and numerous atrocities. The captain of the MacDili, a freighter that has been ferrying refugees to Darwin, described the fighting as "bloody carnage." Estimates of the death toll ranged from several hundred to 2,000. An Australian engineer who fled to Darwin last week said: "Children are being picked up by the feet and their heads smashed against the trunks of trees. Old men and women have been slaughtered.".

Uma mão cheia, todos diferentes...


São mais do que uma mão... são 6!
Todos diferentes. Todos bonitos. Cada um é um. Posso dizer: este é assim, aquele faz assado ou outro é cozido. Todos têm uma coisa em comum: gostam do Tio Pedro e ir para casa do Tio Pedro.
O meu João Pedro, já é um homem. Vai trilhando sozinho, obstinado e embutido nos seus livros. Vai buscado no conhecimento a companhia para o seu desasossego. Anda em Farmácia e é muito bom aluno. Não te esqueças do tio quando for velhinho.

(Ó pra ele todo bonito no seu traje académico!)

14/09/2009

O 272 de 2009


O 272 de 2009 é filho do 324 e sobrinho do 71!
Decidiu seguir pelo caminho que o pai e o tio seguiram, mas por moto próprio. Optou por uma via mais difícil.
Ele é educado, trabalhador e obstinado.
Se quiser pode ser o que quiser.
Sabe o que o espera: o tio e o pai já lhe contaram. Espera dias dificeis em que lhe apetecerá desistir, espera a miragem do «cá fora é mais fácil», espera a saudade da familia e das suas coisas.
Mas, conforme já lhe disse, hoje, se me perguntares, «Tio valeu a pena?», eu digo-te: «Sim valeu a pena».

Pois é, o 272 de 2009 é o Henrique, o Ricki, o pimo Uiqui o nosso Pirolito!

U grande Zacatraz:

1º Amar e honrar a pátria
2º Dignificar a farda que enverga
3º Cultivar a disciplina
4º Dedicar à sua formação todo o seu esforço e inteligência
5º Ser verdadeiro e leal assumindo sempre a responsabilidade dos seus actos
6º Praticar a camaradagem sem denúncia nem cumplicidade
7º Ser modesto no êxito, digno na adversidade e confiante face às dificuldades
8º Ser generoso na prática do bem
9º Repudiar a violência, a delapidação e o despotismo
10º Ser sempre respeitador, afável e correcto

09/09/2009

Farewell Abilio


Abilio era um negro, não sei bem de que etnia (Nianja ou Niungue, uma das duas mais representativas da província), de modos educados, de estatura baixa e testa alta.
Era o nosso criado em Tete.Tinha uma educação e um trato que o destinguia dos outros criados. Não gostava que estivesse nas traseiras, nas escadas dos criados, nem que entrasse na casa onde comiam (aonde a minha mãe me foi buscar várias vezes...).
Brincava comigo quando não tinha amigos.
Lembro-me as filas de cegos que iam pedir a casa e que ele corria com rispidez. Lembro-me da sua mulher e filhos terem morrido, afogados quando a piroga se virou no Zambeze. Lembro-me do meu pai ter pago a bebedeira e o corte de cabelo rapado (costume local quando morria alguém).
Não me lembro quando me despedi dele. Mas sei que o meu pai perguntou se queria vir connosco.
Lembro os embondeiros, a fruta-pão, a terra vermelha e os montes de terra feitos pelas formigas. Lembro o Zambeze.
Quando penso em Moçambique, penso no Abilio. O que foi feito dele. Adeus Abilio.
(Fotografia Novembro de 1973)

05/09/2009

Equipa de levantamento do «Pipoco»




O «Pipoco» ou «Bipe tio» foi levantado hoje, pelas 16:15, estando completamente green a folha de inspecção. Nem uma falha! Nem uma pinga de óleo! Tivemos foi de ouvir o Mechas, 15 vezes...

(Nesta foto, as lonas ainda eram General Grabber)