19/10/2009

O meu avô Pinto



Quando penso no meu avô Pinto vêem-me à cabeça três ideias: Viseu, piloto, e chato.

A minha família Ferreira Pinto é de Viseu. São todos louros. O meu pai e tio tinham o cabelo quase branco em pequenos. Os meus primos são louros. Ele dizia - para desgosto dela - que a minha mãe tinha estragado a raça!
Só bebia vinho Grão Vasco, (do Dão Claro) e água do Vimeiro.
O Paulo, o primogénito, era o favorito. Eu, era o cantiflas.
Tinhamos de ter o cabelo cortado como ele. Os calções tinham de ser acima do joelho, como ele.....

Era piloto. Tinha histórias engraçadíssimas, como aquela em que foram a França buscar os Dragon Rapid, e caíram antes dos Pirinéus voltando de comboio para Lisboa.


Ele era uma pessoa do mundo. Vivia tão depressa em África, como na casa de Santa Cruz, em Lisboa ou na Malveira. Era uma confusão.
Nunca passei um Natal com ele, nem nunca foi aos meus anos. Ia e vinha com uma velocidade que não deixava saudades.


Muito cedo ficou viúvo. A minha avó faleceu com vinte en poucos anos, complicações pós-parto. Ficou em Bissau.
O meu avô «despachou» os filhos para a irmã -a minha tia Zaida - , e teve, como se fugisse à própria vida, uma vida de aventura e desprendimento.
Era uma pessoa culta. Escrevia, desde os tempos na Base de Sintra, em diversos jornais. Tinha colunas regulares no «Jornal de Sintra», «Badaladas da minha Terra», «Moca de Rio Maior» e colaborações no Diabo.
Era amigo dos seus amigos, e conservava fortemente as amizades.
Recordo que recebia todos os natais um postal de Otto von Habsburg, o pretendente ao trono do império austro-hungaro, e que se cruzou com o meu avô na Guiné, estando na altura a escrever o seu trabalho «Afrika Ist Nicht Verloren: Schwarz und Weib--Partner, Nicht Feinde», na qual escreve uns capítulos sobre a àfrica portuguesa. E, refere um episódio, na Guiné, debaixo de uma forte trovoada, o meu avô aterrou o Dornier numa praia, mesmo à beira-mar, saíram do avião, abrigaram-se, e no dia seguinte lá foram outra vez .

Era chato.
Era um político. No tempo do Gen. Humberto Delgado, que acompanhou, a DGS impediu os filhos de frequentarem o Colégio Militar. Após o 25 de Abril, virou extrema direita tendo mesmo sido candidato a deputado pelo PDC (partido da democracia cristã).
E eu e o meu irmão lá viviamos no turbilhão de ideias entre a esquerda (do meu avô Diniz) e a direita (do meu avõ Pinto). Tinhamos de ler o: Avante, o Diário, a Moca e o Diabo! Era uma trabalheira!

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