09/09/2009

Farewell Abilio


Abilio era um negro, não sei bem de que etnia (Nianja ou Niungue, uma das duas mais representativas da província), de modos educados, de estatura baixa e testa alta.
Era o nosso criado em Tete.Tinha uma educação e um trato que o destinguia dos outros criados. Não gostava que estivesse nas traseiras, nas escadas dos criados, nem que entrasse na casa onde comiam (aonde a minha mãe me foi buscar várias vezes...).
Brincava comigo quando não tinha amigos.
Lembro-me as filas de cegos que iam pedir a casa e que ele corria com rispidez. Lembro-me da sua mulher e filhos terem morrido, afogados quando a piroga se virou no Zambeze. Lembro-me do meu pai ter pago a bebedeira e o corte de cabelo rapado (costume local quando morria alguém).
Não me lembro quando me despedi dele. Mas sei que o meu pai perguntou se queria vir connosco.
Lembro os embondeiros, a fruta-pão, a terra vermelha e os montes de terra feitos pelas formigas. Lembro o Zambeze.
Quando penso em Moçambique, penso no Abilio. O que foi feito dele. Adeus Abilio.
(Fotografia Novembro de 1973)

1 comentário:

betinha disse...

"Há um tempo em que é preciso    
abandonar as roupas usadas 
Que já têm a forma do nosso corpo 
E esquecer os nossos caminhos que nos
levam sempre aos mesmos lugares    
É o tempo da travessia   
E se não ousarmos fazê-la  
Teremos ficado para sempre   
À margem de nós mesmos."      

(Fernando Pessoa)