O Argos veio como vieram os outros. Um acaso. A mãe recusou-o, em pequeno. Não o alimentava. E ele, subnutrido, cheio de parasitas e pulgas, veio pelo João Valério, através da clássica: vocês querem um .... e pronto, veio. Era um Perdigueiro Português, lindo, castanho claro, com uma estrela branca no peito e uma lista na testa. Os olhos eram castanhos claros - quase humanos, como dizia a minha mãe - e o nome ficou ARGOS. Argos era o cão de Ulisses. Quando Ulisses partiu para a guerra de Troia, deambulou durante 20 anos, ao fim dos quais regressou à sua terra. Lá, tinha ficado um cão. O Argos. Estava velho e vivia na rua, indigente. Quando Ulisses chegou à sua terra, o Argos, num último esforço, que só os mais fiéis e amigos conseguem, levantou-se, reconheceu o seu dono, dirigiu-se a ele e morreu. Ulisses, tapando a cara com a ponta da capa, chorou a morte do seu cão, o único, que ao fim de 20 anos o tinha conhecido e lhe era fiel.
Esta é a história de tantos outros cães, que embora não se chamando Argos, são como ele: fiéis e amigos.
O meu argos era especial. Como veio muito pequeno para casa, era um cão muito dado, muito mimado e muito querido por todos. Corria atrás dos gatos em cima dos telhados das casas. Toda a gente da aldeia o conhecia e sabia o seu nome. Ele ia ter com as pessoas e cumprimentava-as. Elas, como a peixeira, retribuíam dando qualquer coisa, neste caso uma sardinha ou um carapau. Tomava banho sozinho no chafariz do largo. Na praia, corria atrás das gaivotas, entrando pelo mar.
Um dia, saiu de casa, passou pela oficina e cumprimentou, as pessoas, no campo foi ter com um senhor que lá trabalhava e, desapareceu. Foi roubado. Procurámo-lo até hoje. Chorámos por ele como se de uma pessoa se tratasse. O meu Argos ficou-nos no coração para sempre. Ainda hoje tenho saudades dele.
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